Estado como empresa

Quando uma empresa entra em dificuldades, normalmente podem acontecer uma de três coisas.

A segunda mais frequente, é ser comprada. Como ainda não existem mergers and aquisitions nos estados, passemos às seguintes.

Outra coisa que é frequente acontecer, por vezes como consequência da primeira (ou para a evitar), são os processos de reestruturação.
As empresas sabem que quando estão em dificuldades, é muito difícil aumentar as receitas. Sabem que para conseguir vender mais, têm que incorrer em mais custos, que o resultado é incerto, e que podem, em alguns casos, acabar por até perder vendas que já tinham em resultado deste esforço. (pronto tinha que dar mais uma bofetada no aumento dos impostos).
Portanto, normalmente, os esforços de reestruturação centram-se no lado dos custos.

Normalmente o processo é iniciado com um identificar do que deve ou não a empresa fazer. Definição de objectivos, metas, grandes princípios. Estamos quase no limite da filosofia empresarial, na definição da missão, na definição da visão.
Acho que aqui há muito a fazer no nosso estado empresa. Qual é o grande objectivo do Estado português? É ter um défice público igual a três por cento do produto interno bruto? Não me parece. Se o objectivo fosse (só) esse, seria fácil de atingir. Portanto, Sr. Primeiro Ministro, gostava de saber qual é o grande objectivo que devemos ter no país.

Bem sei que o objectivo será qualquer coisa como: "Proporcionar um elevado padrão de vida a todos os portugueses, com um excelente sistema social e igualitário". Ao que eu respondo, deixem de ser idílicos e façam qualquer coisa de útil.
"Ser um estado de referência no contexto da união europeia, garantindo aos seus cidadãos liberdade, com um esforço de não ser um empecilho na competitividade nacional." Qualquer coisa parecido com a Irlanda parece-me positivo. Ou outra qualquer que defina o que é importante e o que é acessório.

Depois desta definição, é preciso ver tudo o que o Estado faz. Ver se é importante que faça, ou se podem outros fazer, sem que daí venha grande mal ao mundo.
Por exemplo, no caso da saúde, pode-se chegar à conclusão que o Estado português defina que dar saúde aos portugueses é uma das funções do estado (é discutível). Curiosamente, "dar saúde aos portugueses" não é a mesma coisa que "gerir hospitais". Umm... será que ter hospitais é core business de um Estado moderno? Garantir que todos os portugueses têm acesso a um seguro de saúde... pode ser por aí. O Estado poderá depois cobrar uma percentagem dos prémios para fornecer seguros aos que as companhias não querem para si. (Os doentes crónicos, os idosos e pouco mais).

Define-se o que é importante, vende-se o que não é importante, e organiza-se o que fica como fundamental do estado. A legislação, a defesa, a justiça, a representação externa... pouco mais.

Faz-se uma redução brutal dos impostos como forma de estimular a economia e devolver riqueza aos cidadãos, estimula-se a competitividade porque passamos a ter um país onde dá gosto de viver, e deixa de haver défice papão para meter medo.

Ou isto, ou coisa mais frequente que acontece às empresas em dificuldades... fecham.